segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Prof. Gian Danton ensina: personagens são fundamentais numa HQ

O Professor Gian Danton


Gian Danton, nascido Ivan Carlo Andrade de Oliveira (Lavras, 1971), começou com a hq Floresta Negra, com desenhos de Joe Bennett, na revista Calafrio da editora D-Arte.

Em 1991 ganhou o prêmio Araxá como melhor roteirista. Ganhou os prêmios Angelo Agostini, HQ Mix e Associação Brasileira de Arte Fantástica com a graphic novel Manticore, lançada em 1998, sobre o chupa-cabras.

Atualmente, dedica-se ao estudo das histórias em quadrinhos, com diversos trabalhos.

É autor do blog Roteiro de quadrinhos, que traz exemplos de roteiros e textos sobre a arte de escrever roteiros para histórias em quadrinhos. Também é colaborador da revista MAD.

Em 2010, lançou pela editora Marca de Fantasia o livro O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos. Acaba de publicar o livro Mundo Monstro, pela editora Infinitum.

Abaixo, uma entrevista com o professor sobre roteiro para quadrinhos:

Solilóquio Insipiente: Quem é você?
Gian Danton: Meu nome é Ivan Carlo Andrade de Oliveira, mas sou mais conhecido como Gian Danton. Escrevo quadrinhos desde 1989, tendo produzido para várias editoras. Também escrevo literatura e tenho participado de diversa antologias de terror, FC e fantasia. Meu primeiro romance, Galeão, será publicado em 2013 pela 9Bravos.

SI: Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
GD: Em 1989 eu conheci o Bené (Joe Bennett) ao entrevistá-lo para um trabalho da faculdade. Era para ser uma entrevista rápida, mas passamos a tarde inteira conversando. Ao final, ele me convidou para fazermos juntos um fanzine. Foi o Crash!, o primeiro fanzine de quadrinhos do Pará. Pouco depois ele chegou com uma história pronta, A Floresta Negra, e perguntou se eu queria colocar texto. Claro que aceitei. Foi meu primeiro trabalho, publicado na revista Calafrio.

SI: Qual a importância do roteiro para uma HQ?
GD: Eu costumo dizer que uma pessoa compra um gibi pela primeira vez por causa do desenho, mas ela só vai continuar comprando se o roteiro for bom. É o roteiro que fideliza o leitor e faz ele voltar à banca todos os meses. Há vários exemplos disso. Sandman, por exemplo, tinha desenhistas fracos no início, mesmo assim foi um sucesso de vendas. O primeiro desenhista de Walking Dead era bem fraquinho, mesmo assim a revista foi aumentando as vendas a ponto de se tornar o maior sucesso dos quadrinhos norte-americanos.

SI: O que é fundamental num bom roteiro?
GD: Difícil escolher uma coisa só. Mas algo fundamental são personagens sólidos, que parecem reais. O personagem não pode ser só um boneco fazendo aquilo que o roteiro pede. Tem que ser uma pessoa, com medos, anseios, história de vida. Os grandes roteiristas criam essa história de vida até para os personagens secundários.

SI: Você acha possível, e necessário, o desenvolvimento de uma teoria acadêmica sobre a forma do roteiro de quadrinhos no nível dos manuais para cinema de Syd Field, Robert Mckee e Doc Comparato, além do que já foi feito por Will Eisner, Scott McLoud e você mesmo?
GD: Olha, sempre tem alguma coisa a mais para falar sobre o assunto. O roteiro para quadrinhos é um tema muito amplo. Vou dar um exemplo: quando fui convidado para o Muiraquicon (convenção de quadrinhos de Belém), as inscrições para a minha palestra sobre roteiro acabaram rápido e os organizadores me pediram para bolar outra. Acabei fazendo uma palestra só sobre estratégias de textos e relação com o desenhista, baseada na minha experiência pessoal. Acabou virando minha palestra mais elogiada pelo público.

SI: Quais HQs são exemplos de bons roteiros?
GD: São muitas, mas vou tentar fazer uma relação com quadrinhos de todo o mundo: O Eternauta, de Hector Oesterheld (Argentina), Watchmen e V de Vingança, de Alan Moore (Inglaterra), Ken Parker, de Berardi (Itália), Lobo Solitário, de Kazuo Koike (Japão), Tenente Blueberry, de Charlier (França), Esquadrão Atari, de Gerry Conway (EUA).

SI: Como se tornar um roteirista profissional?
GD: Antes de mais nada, a grande dica para se tornar roteirista: leia muito e publique. Não importa onde, publique, mostre seu trabalho. Ninguém nunca vai te convidar para nenhum trabalho se você não for conhecido. Na minha época a gente começava nos fanzines, hoje existem os blogs, o Facebook. A minha série de quadrinhos Exploradores do Desconhecido até hoje só foi publicada na internet e mesmo assim conseguiu uma legião de fãs e já fechamos com uma editora que está esperando apenas o desenhista Jean Okada terminar para publicar esse material.

SI: Como publicar uma história?
GD: Na minha época tinha muitas revistas que compravam roteiros. Hoje é mais fácil começar participando de antologias, com as da 9Bravos, ou da Draco.

SI: O mercado vive um bom momento para o roteirista de HQ?
GD: É um momento diferente de quando comecei. Naquela época os editores compravam os roteiros e isso facilitava por um lado. Por outro, o pagamento geralmente era baixo. Hoje com os álbuns para livrarias, abriu-se um novo mercado. Se vender bem, o cara pode até ganhar bem.

SI: Por fim, quais seus próximos projetos na área de quadrinhos?
GD: Estou participando da revista mix de aventura e ficção Mundo Paralelo, que será vendida em banca com distribuição em todo o território nacional. Também estou preparando material para a antologia de quadrinhos da editora Draco. Também tenho feito quadrinhos institucionais e até roteiro de desenho animado, mas sobre isso não posso falar muito, por razões de contrato... 

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