O Professor Gian Danton |
Gian Danton, nascido Ivan Carlo Andrade de Oliveira (Lavras, 1971), começou com a hq Floresta Negra, com desenhos de Joe
Bennett, na revista Calafrio da editora D-Arte.
Em 1991 ganhou o prêmio Araxá como melhor roteirista. Ganhou os
prêmios Angelo Agostini, HQ Mix e Associação Brasileira de Arte
Fantástica com a graphic novel Manticore, lançada em 1998, sobre o
chupa-cabras.
Atualmente, dedica-se ao estudo das histórias em quadrinhos, com
diversos trabalhos.
É autor do blog Roteiro de quadrinhos, que traz exemplos de roteiros
e textos sobre a arte de escrever roteiros para histórias em
quadrinhos. Também é colaborador da revista MAD.
Em 2010, lançou pela editora Marca de Fantasia o livro O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos. Acaba de publicar o livro Mundo Monstro, pela editora Infinitum.
Abaixo, uma entrevista com o professor sobre roteiro para quadrinhos:
Abaixo, uma entrevista com o professor sobre roteiro para quadrinhos:
Solilóquio Insipiente: Quem é você?
Gian Danton: Meu nome é Ivan Carlo Andrade de Oliveira, mas
sou mais conhecido como Gian Danton. Escrevo quadrinhos desde 1989,
tendo produzido para várias editoras. Também escrevo literatura e
tenho participado de diversa antologias de terror, FC e fantasia. Meu
primeiro romance, Galeão, será publicado em 2013 pela 9Bravos.
SI: Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
GD: Em 1989 eu conheci o Bené (Joe Bennett) ao entrevistá-lo
para um trabalho da faculdade. Era para ser uma entrevista rápida,
mas passamos a tarde inteira conversando. Ao final, ele me convidou
para fazermos juntos um fanzine. Foi o Crash!, o primeiro fanzine de
quadrinhos do Pará. Pouco depois ele chegou com uma história
pronta, A Floresta Negra, e perguntou se eu queria colocar texto.
Claro que aceitei. Foi meu primeiro trabalho, publicado na revista
Calafrio.
SI: Qual a importância do roteiro para uma HQ?
GD: Eu costumo dizer que uma pessoa compra um gibi pela
primeira vez por causa do desenho, mas ela só vai continuar
comprando se o roteiro for bom. É o roteiro que fideliza o leitor e
faz ele voltar à banca todos os meses. Há vários exemplos disso.
Sandman, por exemplo, tinha desenhistas fracos no início, mesmo
assim foi um sucesso de vendas. O primeiro desenhista de Walking Dead
era bem fraquinho, mesmo assim a revista foi aumentando as vendas a
ponto de se tornar o maior sucesso dos quadrinhos norte-americanos.
SI: O que é fundamental num bom roteiro?
GD: Difícil escolher uma coisa só. Mas algo fundamental são
personagens sólidos, que parecem reais. O personagem não pode ser
só um boneco fazendo aquilo que o roteiro pede. Tem que ser uma
pessoa, com medos, anseios, história de vida. Os grandes roteiristas
criam essa história de vida até para os personagens secundários.
SI: Você acha possível, e necessário, o desenvolvimento de
uma teoria acadêmica sobre a forma do roteiro de quadrinhos no nível
dos manuais para cinema de Syd Field, Robert Mckee e Doc Comparato,
além do que já foi feito por Will Eisner, Scott McLoud e você
mesmo?
GD: Olha, sempre tem alguma coisa a mais para falar sobre o
assunto. O roteiro para quadrinhos é um tema muito amplo. Vou dar um
exemplo: quando fui convidado para o Muiraquicon (convenção de
quadrinhos de Belém), as inscrições para a minha palestra sobre
roteiro acabaram rápido e os organizadores me pediram para bolar
outra. Acabei fazendo uma palestra só sobre estratégias de textos e
relação com o desenhista, baseada na minha experiência pessoal.
Acabou virando minha palestra mais elogiada pelo público.
SI: Quais HQs são exemplos de bons roteiros?
GD: São muitas, mas vou tentar fazer uma relação com
quadrinhos de todo o mundo: O Eternauta, de Hector Oesterheld
(Argentina), Watchmen e V de Vingança, de Alan Moore (Inglaterra),
Ken Parker, de Berardi (Itália), Lobo Solitário, de Kazuo Koike
(Japão), Tenente Blueberry, de Charlier (França), Esquadrão Atari,
de Gerry Conway (EUA).
SI: Como se tornar um roteirista profissional?
GD: Antes de mais nada, a grande dica para se tornar
roteirista: leia muito e publique. Não importa onde, publique,
mostre seu trabalho. Ninguém nunca vai te convidar para nenhum
trabalho se você não for conhecido. Na minha época a gente
começava nos fanzines, hoje existem os blogs, o Facebook. A minha
série de quadrinhos Exploradores do Desconhecido até hoje só foi
publicada na internet e mesmo assim conseguiu uma legião de fãs e
já fechamos com uma editora que está esperando apenas o desenhista
Jean Okada terminar para publicar esse material.
SI: Como publicar uma história?
GD: Na minha época tinha muitas revistas que compravam
roteiros. Hoje é mais fácil começar participando de antologias,
com as da 9Bravos, ou da Draco.
SI: O mercado vive um bom momento para o roteirista de HQ?
GD: É um momento diferente de quando comecei. Naquela época
os editores compravam os roteiros e isso facilitava por um lado. Por
outro, o pagamento geralmente era baixo. Hoje com os álbuns para
livrarias, abriu-se um novo mercado. Se vender bem, o cara pode até
ganhar bem.
SI: Por fim,
quais seus próximos projetos na área de quadrinhos?
GD: Estou
participando da revista mix de aventura e ficção Mundo Paralelo,
que será vendida em banca com distribuição em todo o território
nacional. Também estou preparando material para a antologia de
quadrinhos da editora Draco. Também tenho feito quadrinhos
institucionais e até roteiro de desenho animado, mas sobre isso não
posso falar muito, por razões de contrato...
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