segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Adaptações para quadrinhos


 Um dos grandes problemas de adaptações para mídias diferentes é que o adaptador não sabe cortar. Aí, a obra vira uma sucessão de fatos apressados, quase tipo esquetes, sem construção de clima, sem aprofundamento de personagens. Algumas adaptações literárias para HQ se perdem numa sucessão de recordatórios, quase sem “ação”. Na verdade, vira um negócio chato. A justificativa é o respeito e fidelidade à obra principal.

Isso não deveria existir. A adaptação tem que ser tratada como um novo trabalho. O adaptador tem de se apropriar e fazer o seu trabalho original, como que inspirado pela matriz. Só aí se justificaria a adaptação. Fora isso, é caça-níqueis.


Como adaptar para HQ

Vamos a uma dica para adaptação. Anoto que quadrinhos é arte, e não tem fórmula. Abaixo, tomo a liberdade de passar algo que pode ajudar, conforme minhas reflexões, mas não se prenda a isso.

Do meu ponto de vista, a primeira coisa é reduzir a obra toda em uma frase. Tirar o amâgo dela. O tema. E isso deve ser subjetivo, do adaptador. É o que ela significa pra você.

Feito isso, extraem-se os personagens, conforme a função dramática de cada um. Sempre se atentando à funcionalidade do personagem ao tema. Por exemplo, baseados em arquétipos: protagonista, antagonista, mentor, catalizador (os quais podem ou não se confundir). Assim, fidelidade nenhuma aos demais personagens. Fora um ou outro coadjuvante que tenha alguma aparição marcante, desde que haja espaço.


Criando uma história sua

Já temos tema e personagens, agora vamos à estrutura da história. É importante pegarmos cenas marcantes da obra original. São elas: o final e os dois pontos de virada para cada ato. Se a matriz tiver mais cenas impactantes, use mais uma ou outra e descarte o resto, sem . O limitador aqui é o seu número de páginas.

Pronto. Veja quantas páginas você tem entre os pontos de virada e a sequência final, com as poucas cenas marcantes que você escolheu e, agora, vamos ao ponto: crie a sua história original, conforme o seu tema.

Preencha o que falta entre as cenas escolhidas com o que é necessário para contar o tema. Faça isso revisitando os locais e situações da obra original. Aqui, você escolhe as cenas do original conforme as necessidades da sua história, não o inverso. Evite criar sequências ou acontecimentos novos que se destaquem, que desviem o leitor da matriz.


Essas observações valem para tentarmos fazer uma adaptação o mais próximo do original, sem que fique engessada, o que geralmente ocorre. Você pode se sentir ainda mais livre e viajar mais. Depende de você e do resultado que quer obter.

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