A sarjeta, lacuna entre os quadrinhos, é onde grande parte da ação
acontece. E para isso, as hq contam com a cumplicidade do leitor. É
a capacidade de conclusão que nos permite “ver” o que não está
lá.
É a mente, e a nossa capacidade de conclusão, que nos permite
enxergar além do que é mostrado. Por exemplo, num efeito dramático,
o quadrinho dá close apenas no olho do personagem, mas a nossa mente
vê lá todo o rosto, o corpo, o cenário. Num quadro, vemos o vilão
apontando uma pistola para o mocinho, no outro, vemos o túmulo do
mocinho. Sabemos que o vilão atirou, que o mocinho morreu, que ele
foi enterrado ali, e, vamos às minúcias, sabemos que o coveiro
cavou o buraco, alguém comprou a lápide, colocoram ele no caixão e
por aí vai. Não foi o artista que pôs isso lá, foi o leitor quem
viu.
Scott McCloud (Desvendando os quadrinhos) lista cinco tipos de
transição entre os quadros:
a) momento-para-momento: traz movimentos simples, numa
monotonia, como alguém abrindo e fechando os olhos, uma pessoa
caminhando, as ondas do mar indo e vindo;
b) ação-para-ação: é a mais comum e se dá dentro do
mesmo tema, a arma disparando e acertando o mocinho; um avião caindo
e explodindo.
c) tema-para-tema: a cena descrita anteriormente da arma
apontada pelo vilão e o túmulo do mocinho, o que exige grande grau
de envolvimento do leitor para permitir a conclusão;
d) cena-a-cena: traz grandes distâncias de tempo e espaço,
como Superman sendo lançado bebê de Kripton num quadro, ele criança
levantando um sofá, surpreendendo os pais no outro;
e) aspecto-para-aspecto: muito comum em mangás, é como se
víssemos um cenário inteiro em partes, como copos sujos, depois
pilhas de prato, depois uma torneira saindo água com mãos
ensaboando outro prato – conclusão: estamos numa cozinha! E
f) “non-sequitur”: quadros sem sequência lógica,
por exemplo um pato, depois um videogame, daí uma panela de
macarronada.
A aula sobre transição de Scott McCloud |
É contando com poder da conclusão que os artistas escolhem
enquadramentos, cenas, sequências que contarão a sua história.
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