segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A transição nos quadrinhos


A sarjeta, lacuna entre os quadrinhos, é onde grande parte da ação acontece. E para isso, as hq contam com a cumplicidade do leitor. É a capacidade de conclusão que nos permite “ver” o que não está lá.

É a mente, e a nossa capacidade de conclusão, que nos permite enxergar além do que é mostrado. Por exemplo, num efeito dramático, o quadrinho dá close apenas no olho do personagem, mas a nossa mente vê lá todo o rosto, o corpo, o cenário. Num quadro, vemos o vilão apontando uma pistola para o mocinho, no outro, vemos o túmulo do mocinho. Sabemos que o vilão atirou, que o mocinho morreu, que ele foi enterrado ali, e, vamos às minúcias, sabemos que o coveiro cavou o buraco, alguém comprou a lápide, colocoram ele no caixão e por aí vai. Não foi o artista que pôs isso lá, foi o leitor quem viu.

Scott McCloud (Desvendando os quadrinhos) lista cinco tipos de transição entre os quadros:
a) momento-para-momento: traz movimentos simples, numa monotonia, como alguém abrindo e fechando os olhos, uma pessoa caminhando, as ondas do mar indo e vindo;
b) ação-para-ação: é a mais comum e se dá dentro do mesmo tema, a arma disparando e acertando o mocinho; um avião caindo e explodindo.
c) tema-para-tema: a cena descrita anteriormente da arma apontada pelo vilão e o túmulo do mocinho, o que exige grande grau de envolvimento do leitor para permitir a conclusão;
d) cena-a-cena: traz grandes distâncias de tempo e espaço, como Superman sendo lançado bebê de Kripton num quadro, ele criança levantando um sofá, surpreendendo os pais no outro;
e) aspecto-para-aspecto: muito comum em mangás, é como se víssemos um cenário inteiro em partes, como copos sujos, depois pilhas de prato, depois uma torneira saindo água com mãos ensaboando outro prato – conclusão: estamos numa cozinha! E
f) “non-sequitur”: quadros sem sequência lógica, por exemplo um pato, depois um videogame, daí uma panela de macarronada.

A aula sobre transição de Scott McCloud

É contando com poder da conclusão que os artistas escolhem enquadramentos, cenas, sequências que contarão a sua história.


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